segunda-feira, 25 de novembro de 2013

K42 Adventure Marathon Villa La Angostura - Como foi!


Para quem me acompanhou por aqui e pelo facebook durante esse ano, pôde ver de perto, o passo a passo da minha preparação para minha prova alvo do ano que seria a K42 Villa la Angostura. Viu todas as minhas angustias pré-prova, meus medos, minha tendinite, meus treinos, enfim tudo que um maratonista passa para poder atingir seus objetivos. Passou uma semana e as emoções de tudo que vivi nestes dias na Patagônia Argentina ainda estão bem presentes. E foi umas das experiências mais incríveis que ja vivi. 

Pré-prova


No início deste ano, quando estava pensando em quais provas eu iria participar, fazendo toda minha programação, eu tinha apenas uma certeza: queria um desafio diferente de tudo que já tinha feito. Comecei a sentir um certo "bode" das corridas de rua, e daquela neura sem fim de querer baixar tempo, melhorar o pace. Estava querendo um desafio diferente que me fizesse enxergar a corrida com outros olhos. Foi então que vi nas provas de montanha uma nova possibilidade. Sempre opto por apenas uma maratona no ano, mais que isso, acho muito desgastante, devido a minha profissão. No ano passado, havia acompanhado pela internet como havia sido a K42 de Villa la Angostura e fiquei super tentada. Então decidi que ela seria meu objetivo principal de 2013. Consegui a inscrição com a Up4fit que me apoiou desde o primeiro momento, e comecei os treinos. 


Treinei muito bem até final de julho, quando então surgiu uma tendinite no joelho, que atrapalhou muito meu rendimento. Confesso que pensei em alguns momentos em abortar a missão, mas não sou do tipo que desiste fácil. Treinei o que pude. Eu sabia que seria um desafio bem difícil... mas na verdade eu não fazia ideia do que me esperava nas montanhas Argentinas.



Logo de cara fiquei encantada com a cidade e com a Patagônia. Lugar incrível, de encher os olhos, com um povo muito receptivo. Chegamos em Villa la Angostura na quinta (14 de novembro) e os meus nervos já estavam à flor da pele. Não sou de ficar tensa no pré-prova, mas o meu grande medo era não conseguir terminar. Na sexta-feira, ocorreu a prova de 15km, onde uma aluna minha, Camila Carone, participou, estreando em corridas e já de cara na montanha. Ela ficou encantada com a prova, superou um grande desafio, e completou em 2h24m (depois vou fazer um post só com os detalhes da K15 e com os detalhes contados por ela). Na sexta à noite, aconteceu o congresso técnico, onde a organização da prova explicou todos os detalhes da prova, o que deveríamos fazer se desistíssemos por algum motivo, entre outros avisos. Aliás, a organização da prova é impecável.




A prova

Enfim, o grande dia chegou! O sábado amanheceu gelado, com um pouco de neblina. Eu não dormi tão bem...Ansiedade explodindo. Chegamos ao local da largada às 8h. Não havia chegado quase ninguém ainda, a largada seria às 9h. Fizemos grandes amigos por lá, nos encontramos antes da largada, o que ajudou um pouco a amenizar o nervosismo. Era minha primeira vez na montanha, eu não fazia ideia do quão difícil seria. Às 9h em ponto foi dada a largada. Mais ou menos 1.500 corredores davam início ao seu grande desafio, que eu tenho certeza que ficará marcado na memória de cada um por um bom tempo.
Os três primeiros quilômetros eram em uma estradinha de terra, com pequenos desníveis, que dariam no início da subida do Cerro Belvedere. Logo que começou a subida, todo mundo começou a andar, e simplesmente não havia como correr de tão ingrime que era a subida. Uma subida que terminaria por volta dos 7km a 1.400 metros acima do nível do mar, e que tinha um dos mais belos visuais da prova. À partir daí, iniciava a primeira descida, e, inexperiente que sou no mundo das montanhas, logo levei meu primeiro tombo. Então fiquei esperta e comecei a prestar um pouco mais atenção nas decidas. Eu estava bem, do segundo ponto de apoio no km 12 até a base do Cerro Bayo no km 24 corri forte, concentrada e sem nenhum vestígio de dores da minha tendinite.

Parei no ponto de apoio, reabasteci a mochila de hidratação e fui. Fui para a parte mais difícil e incrível da prova. Da base do Cerro Bayo ao cume seriam 6km. Eu realmente não fazia ideia do quão difícil seria. Por ali vi muita gente parando, sentindo câimbras, pessoas se ajudando. Era um misto de emoções e parecia que não acabava nunca. Quando saímos da mata, já dava para avistar o topo. Porém, começava ali a parte mais difícil. A trilha era no meio da neve, o calor estava apertando e eu comecei a sentir alguns sinais de desidratação. Me mantive firme, e então a cabeça comandou, pensei em tudo o que tinha passado até ali, em todas as pessoas que estavam torcendo por mim. Tirei forças de dentro de mim que eu nem sabia que tinha e cheguei no cume do Bayo, com 5h30m cravadas.
Os primeiros 300 metros de descida me deram muito medo, em meio a neve e pedras. A melhor opção foi descer de "sky-bunda". Cheguei ao ponto de apoio, precisei ir ao banheiro, comi, tomei bastante água e gatorade, um advil para a dor de cabeça que começava a se manifestar. Fiquei por ali uns 10 minutos, recuperando as energias e iniciei a descida. Por um momento pensei na possibilidade de desistir. Então lembrei que faltavam só 10km, e eu não iria desistir faltando tão pouco, sendo que o mais difícil eu já havia enfrentado. Fui, desci tranquila, tomei mais um tombo no km 38, e faltando 1,5km, avistei um rosto amigo. Foi a glória. Eu estava enfim chegando ao final. O Marcelo, amigo que fizemos na Villa, tirou minha mochila de hidratação e me deu a bandeira do Brasil. Encontrei a minha amiga Camila, que correu comigo o último km.


Quando avistei o pórtico de chegada, mil emoções vieram na minha cabeça. Eu só sabia dizer: foi a coisa mais difícil e incrível que eu já fiz na minha vida. Naquele momento, eu senti que era mais forte do que me imaginava, e que meu limite ia mais além do que eu pensava conseguir. Abraçada na bandeira do Brasil, me ajoelhei e agradeci a Deus. Eu consegui terminar. Foram 7 horas, 3 minutos e 34 segundos. Eu venci meus medos, eu venci minha insegurança, eu venci minha tendinite que não deu sinais de vida. Eu venci o maior desafio da minha vida. Quanto ao tempo, não sei se é baixo ou alto. Na verdade pouco me importa. O fato de ter completado já me fez vitoriosa. Uma vitória pessoal!

Para quem gosta de números, fiquei em 78° lugar no geral feminino e 6° na categoria 17 a 29 anos. Confesso que fiquei um pouquinho mais feliz por ter ficado entre as cem primeiras. Esse foi meu lado sentimentalista da corredora de rua falando. E para as corridas de rua, um muito obrigada por estes sete anos, mas encontrei um novo amor. As montanhas que me aguardem.

Agradecimentos
Durante todo esse ano durante minha preparação várias pessoas passaram por minha vida e me ajudaram de alguma forma. Gostaria de agradecer a Up4fit Academia que me patrocinou com a inscrição da prova, vocês acreditaram que eu conseguiria desde o primeiro momento. Camila minha amiga querida, que topou o desafio, foi minha parceira, me ajudou em cada momento e me deu muita força nos meus momentos de medo, obrigada por cada abraço. Minha mãe e minha família que mesmo distantes sempre me dão apoio incondicional. Ao Gabriel e família obrigada por sempre me apoiarem e torcerem muito por mim. Aos meus treinadores, Dino no primeiro semestre e Branca no segundo semestre, obrigada pelos treinos, pelos puxões de orelha e por acreditarem que eu conseguiria, vocês são meus exemplos. Minha nutricionista Luciane Romero que me acompanhou todo esse ano e nos altos e baixos sempre dando força pra não desistir. Ao Dr Roberto e ao meu fisioterapeuta Gustavo, obrigada por cuidarem de mim e me deixarem apta a correr a prova sem dores. Todos meus alunos, obrigada por me apoiarem e entenderem minha ausência nestes dias. Meus amigos queridos que treinaram comigo, vocês foram fundamentais. Aos amigos que fiz na prova, obrigada pela parceria, foi um prazer conhecê-los e dividir este momento com vocês. A todos que de alguma forma estavam ali torcendo por mim, muito obrigada. Esta foi a prova mais difícil que já fiz e todos à sua maneira foram fundamentais e a minha vitória também é de vocês.